Daniel Lopes
Rodrigues pequeno produtor rural do Assentamento Dona Antonia - Conde - Pb
A família
do camponês é descrita pelo mesmo da seguinte forma: pela figura do pai, que é
o próprio e tem 44 anos; da esposa, chamada Cristina que tem 36 anos; da filha
que tem 20 anos e de um filho do primeiro casamento de 25 anos, mas que não mora com ele.
Essa família teve acesso à terra por meio da organização dos
camponeses sem terras da região, apoiada CPT – Comissão Pastoral da Terra, em
prol da luta pela terra. As pessoas envolvidas na luta pela terra ou residiam
na zona rural de municípios próximos (Caaporã, Alhandra, Jacumã - PB) ou eram
moradores da própria fazenda Baraúna, sendo este o território em disputa. Em
1995, a fazenda Baraúna pertencente à Lundgren Pastoril Agrícola S/A, de
propriedade do Sr. Almir Machado Corrêa de Oliveira, foi ocupada por 250 famílias sem terras, e após meses de
conflitos, incluindo despejos e prisões a fazenda foi desapropriada assentando
110 famílias camponesas.
A parcela de Daniel, assim como as demais do assentamento
Dona Antônia, possui 5 hectares. Toda a área produtiva possui estrutura de
irrigação, melhoria realizada com recurso próprio. Sua área produtiva é
separada da casa onde mora com a família, por causa da estrutura do
assentamento, que é em forma de agrovila. Próximo a casa a família cria
galinhas e possui uma área destinada ao gado, que recentemente foi vendido (13
cabeças) para viabilizar a irrigação da área produtiva.
A família cultiva
macaxeira, inhame, jerimum, feijão, milho e uma grande diversidade de frutas
(banana, mamão, acerola, mangaba, araçá, saputi, abacate, manga, maracujá,
coco, etc), sendo toda a produção utilizada para consumo e comercialização.
Quase toda a área da parcela do camponês está produtiva, e é consorciada com duas ou mais
culturas por terreno. As hortaliças consumidas pela família são provenientes da
Feira da UFPB, onde o camponês troca itens da sua produção com aqueles que
produzem hortaliças.
Praticamente todo o consumo alimentar da família é retirado da produção ou adquiridos na Feira da UFPB.
A divisão do trabalho na
família desse camponês dá-se através de uma divisão do trabalho a partir do gênero e da idade. Daniel é responsável
pelo plantio e colheita de culturas curtas e longas, e pelo cuidado (alimentação,
vacinação, corte) dos animais de grande porte, e também das galinhas. A Cristina
é responsável por todo o serviço doméstico, por cuidar da filha, ajuda na
coleta de acerolas, na colheita de outras culturas e apenas no período das
férias acompanha o marido à feira, pois
Cristina dá aula às crianças da sua comunidade.
Daniel afirma que a tranqüilidade
de deixar a esposa cuidando da casa é essencial para que ele vá trabalhar, e
reconhece o valor do trabalho dela como professora, mas admite que sua
contribuição no roçado faz falta: “eu preferia que ela tivesse comigo, que era
mais um braço ajudando, principalmente na época de catar acerola, mas nas
férias ela vem pra cá, tá sempre ajudando...”. A
filha tem 20 anos estuda, e ajuda a mãe nos serviços domésticos.
A jornada de trabalho de
Daniel é de segunda a sábado no roçado e todos os dias da semana nos cuidados
básicos com os animais. Dentre esses dias, a sexta feira é prioritariamente
destinada à comercialização na feira, apenas ocasionalmente vai ao roçado à
tarde. De acordo com Daniel a jornada de trabalho começa ao nascer do sol (um
pouco antes das 5:00) e termina perto das 16 horas, com pausa para o almoço e
um pequeno descanso. Até o meio dia Daniel está no roçado (plantando, limpando,
adubando ou colhendo), depois do almoço ele cuida dos bichos e planeja o
trabalho a ser feito no dia seguinte. À noite geralmente Daniel ainda volta pra
área de produção
para cuidar da irrigação.
O camponês ao ser
indagado sobre o grau de satisfação com a sua rotina do trabalho responde que,
“eu trabalho o suficiente para minha sobrevivência, tenho liberdade de fazer o
que quero na hora que quero, sem ter o rabo preso com ninguém”, informação que
nos faz relacionar a sua carga de trabalho à Teoria da Economia Camponesa de Chayanov que defende que no universo camponês, o trabalho só se justifica até que
seja atingido o que a família estabelece como necessidade, havendo um
equilíbrio entre trabalho e consumo, chamado de equilíbrio interno.
Daniel conta com a ajuda
de dois trabalhadores, de forma quase contínua, que recebem o pagamento através
de diárias. O camponês diz que planta muita coisa e não consegue cuidar de tudo
sozinho. Apesar de num modo geral o trabalho do camponês estar representado
pela família, não é excluída a possibilidade de terceiros no complemento da
força de trabalho, principalmente se forem em períodos específicos como a
colheita e realizado juntamente com
o camponês. Reportamo-nos à Shanin quando o autor trata da
heterogeneidade das formas de reprodução camponesa dentro do capitalismo, e defende
a não homogeneidade das características do campesinato.
Daniel é vinculado a duas
entidades que representam seus interesses, que são, a Cooperativa da
Agricultura e Serviços Técnicos do Litoral Sul - Coasp e a Associação de
Agricultores (as) Agroecológicos da Várzea paraibana – Ecovárzea, e afirma que,
toda a comercialização da sua produção acontece devido à articulação dessas
duas entidades. Além da Feira Agroecológica da UFPB, Daniel comercializa
através do
Programa de Aquisição de
Alimentos – PAA. A quantidade de produtos
comercializados por Daniel
é a mais representativa dentro da realidade da Ecovárzea. A Agente Pastoral
Tânia nos diz que: “Sabe por que Daniel tem a produção que tem ? É porque ele
tem ousadia, ele está com a área toda irrigada e ele é assentado como os outros...
ele é dinâmico e ousado”. A renda de Daniel está entre R$2.000,00 e R$ 3.000,0070
mensal.
Quando indagado acerca do
que seria o desenvolvimento para a sua realidade Daniel respondeu: “seria o
desenvolvimento da minha família, por exemplo. Se a feira tá se desenvolvendo
com certeza minha família também, porque tudo que faço é em torno da minha
família, eu meço pela família, hoje por exemplo, eu tenho uma vida muito melhor
do que eu tinha antigamente...”.
Aproveitei uma laranja lima produzida na parcela de Daniel...100% orgânica.
Além de mais saudáveis, porque são livres de agrotóxicos e de
aditivos, os alimentos orgânicos também garantem a conservação do meio ambiente
e preservam a saúde do agricultor (que não manipulam produtos químicos). A
atividade também pode ser bastante lucrativa. Daniel vende tudo o que produz, pois tem certificação orgânica...pois, passou pelo processo de CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS.
Comida sem agrotóxico. Mais saúde na nossa mesa. Parabéns!
ResponderExcluirCom certificação...isso é o diferencial.
ResponderExcluirO Daniel vende toda sua produção. O que sobra, ele troca por hortaliças, pois ele não as produz.
ResponderExcluirEsse pequeno produtor gera renda para 4 outros que o auxiliam e ainda tem uma renda de R$ 5 mil reais mensais. É um exemplo a ser seguido pelos assentados da região.
ResponderExcluirTem feira de orgânicos em Jacumã? Agora que aderi ao vegetarianismo...
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