Programa A Voz Ecologia Ativa

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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

TAMBABA E JUREMA - Segredos e Mistérios Unidos.

                                  TAMBABA – MAGIA E SEDUÇÃO




Tambaba está localizada no município do Conde, a 30 km de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, é um lugar paradisíaco, onde fica a mais conhecida e bela praia de naturismo do Brasil, que compõe a Área de Preservação Ambiental de Tambaba. A APA de Tambaba, com 14 mil hectares, está integrada entre três municípios: Conde, Pitimbu e Alhandra.
Em Tambaba existe a mata secundária mais densa de toda a APA, com dezenas de espécies vegetais próprias da Mata Atlântica, bioma brasileiro que resta apenas 5% da floresta original. Na APA de Tambaba vivem diversos tipos de animais autóctones: serpentes, jacaré, iguana, jaguatirica, raposa, cotia, guaxinim, coati, papagaio curica, papa-mel, seriema, jacu, tamanduá-mirim e outros animais em vias de extinção.


Tambaba está envolvida em um ambiente mágico.
Desde antes do descobrimento se praticava o culto da Jurema. Essa bebida cerimonial xamânica que leva a pessoa a um estado de percepção sensorial superior.
Cozinha-se a raiz da planta denominada jurema (Mimosa hostilis) e, com essa bebida, se obtém o poderoso neurotransmissor dimetiltriptamina, DMT, que é uma sofisticada estrutura química similar à serotonina, que permitia aos indígenas realizar a integração do homem com os espíritos. Nas pedras de suas praias ainda se realizam cultos para as entidades espirituais da floresta, é uma tradição que se pratica desde muitos séculos.
O culto da Jurema foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba como patrimônio imaterial da cultura local. A origem desse culto é o território da APA de Tambaba.


Entre as dezenas de espécies botânicas existentes em Tambaba há uma muito especial, que é o barbatimão (Stryphnodendron barbatiman), que era conhecido pelos primitivos habitantes do Brasil por “ibá timó”, que significa em tupi-guarani “árvore que aperta”, pois era usado pelas mulheres indígenas para acochar o órgão genital feminino. Algumas mulheres continuam usando o barbatimão para potencializar o prazer da prática sexual.

JUREMA

A "Jurema Negra" ( Mimosa Tenuiflora ), é também conhecida como Espinheiro Preto. É uma árvore muito conhecida no nordeste brasileiro~. São utilizadas a casca e a raiz macerada na água.


É desta planta que se origina o famoso "Vinho da Jurema", citado até na obra "Iracema", de José de Alencar : "Através da planta, os guerreiros de Araquem entravam em comunicação com o mundo invisível"
É usada nos rituais de quilombolas  e pajelanças, principalmente entre os índios Tabajaras, Jês, Tapuias e Kariris (BR). O preparo da bebida e o cerimonial eram secretos. Era usada por médicos-feiticeiros, juntamente com o fumo e o maracá, para abençoar, aconselhar e curar. A ingestão permite ao pajé entrar em contato com seus espíritos ancestrais. Na Umbanda, Jurema é a dona das ervas mágicas.
Segundo Sangirardi Jr.,os pajés indigenas ensinaram aos brancos e mestiços os mistérios da pajelança, e esta influiu no ritual dos quilombolas. O "Cauim" (cachaça com Jurema), dá um sentimento de plena energia, de paz com o mundo e com nós mesmo, de empatia com todas as criaturas.
Até o século XIX, o fato de beber jurema era considerado um ato de bruxaria ou prática de magia e seu uso era secreto. Alguns indígenas foram presos praticando este ritual, entretanto foram ele que ensinaram aos brancos e mestiços o uso da planta.
Existem dois tipos de jurema, a branca (Pithecolobium diversifolium) e a negra (Mimosa nigra Hub.). Os pajés indígenas elaboravam uma bebida com a jurema branca que produzia sonhos afrodisíacos e premonitórios.


A infusão de jurema é preparada com suas raízes, que devem primeiro serem raspadas para eliminar a terra que nela se apresenta agregada e depois serem muito bem lavadas. Em seguida, a raiz deve ser colocada sobre uma pedra e macerada com a utilização de outra pedra. A massa formada deve ser diluída em um recipiente com água. Pouco a pouco a água se transforma em um líquido avermelhado e espumoso, semelhante ao vinho, motivo pelo qual é conhecido por este nome.
As folhas de jurema também são usadas secas, misturadas ao tabaco, que são fumados em cachimbos que os indígenas faziam com o tronco da jurema. O pajé coloca o cachimbo ao contrário, onde se deposita o tabaco, e sopra sobre a poção que se encontra no recipiente. Os galhos e as flores da jurema são destinados à rituais de limpeza que combatem o mau-olhado e eliminam qualquer influência negativa no corpo.


Recomendam os especialistas em tal classe de psicotrópicos o conhecimento do maior número possível de ritos e descrições individuais inclusive por esse método de pesquisa já se denomina essas substancias como enteógenos.
A palavra enteógeno significa literalmente: manifestação interior do divino, deriva de uma palavra grega obsoleta, que se refere à comunhão religiosa com drogas visionárias, ataques de profecia, e paixão erótica, e está relacionada com a palavra entusiasmo pela mesma raiz.
Apesar das semelhanças dos relatos de uso dessas substancias possuírem uma semelhança com as descrições de estados oníricos, das psicoses e de êxtase religioso e possessão divina (como o nome enteógeno sugere) não apenas por ser um efeito psicofarmacológico, onde o usuário não perde a consciência do ritual ou do uso da substancia, é possível reduzir seu efeito e uso.


A persistência do uso da jurema em rituais indígenas e religiões populares do Nordeste do Brasil pelos quilombolas, apesar de combatida pela colonização católica, com os rigores da inquisição e da polícia, por si só indica sua importância farmacêutica e simbólica para grupos que possuem uma forma específica de organização social entre a sociedade tribal e as comunidades religiosas. Contudo pode-se atribuir a essa perseguição a diversidade no modo de uso e mesmo da identificação da espécie.
Os índios do Nordeste apesar do processo de integração à sociedade nacional conservaram em algumas regiões organizações que sobrevivem como grupos religiosos e entidades civis tuteladas pelo estado identificadas em etnias sobreviventes e Missões indígenas. Pelo menos 5 etnias ainda utilizam a Jurema em seus rituais.


A Jurema juntamente com o cacto mandacaru faz parte do dia a dia do nordestino, bem como das histórias e das lendas, sobretudo na caatinga nordestina, sendo considerada sagrada pelos índios.
Não é difícil entender porque a Jurema seria sagrada para os índios nordestinos antes da chegada dos brancos.
Além de seu caráter alucinógeno e do seu comprovado uso nas guerras e ritos de passagem, a Jurema, enquanto planta, desempenha um papel central no ecossistema semiárido das caatingas nordestinas: durante os longos períodos de estiagem, quando a paisagem do sertão fica cinza e vermelho, apenas ela e o cacto do mandacaru resistem verdes e com reservas de água.
Na verdade, no auge da estiagem, a casca da Jurema seca enquanto seu interior permanece viçoso. Quando a chuva volta, a casca seca cai e a árvore reaparece jovem.


Esse fenômeno dá margem a uma longa mitologia de lendas e cantos envolvendo os ciclos de sazonalidade de morte e renascimento. Mas, ao contrário do mandacaru, do qual o sertanejo pode extrair água durante a estiagem, a água da Jurema é completamente inacessível ao uso humano.
Assim, centro da resistência da vida orgânica à seca, em torno do qual todo ecossistema ‘não humano’ (na verdade, não mamífero) da caatinga gravita, a Jurema reina no sertão nordestino, desde tempos imemoriais, às margens de qualquer socialização: trata-se apenas um local perigoso e cheio de tabus, sob múltiplos aspectos.
Os cultos não são apenas públicos, pois há os individuais, onde se atendem e se faz vários tipos de trabalhos, todavia, quando do Toque de Jurema, o mesmo se processa da seguinte maneira:

1. Os rituais ou mesas são mágico-sagrados sendo muito valorizados principalmente pelos benefícios que propiciam.
2. O uso do vinho de Jurema é o principal remédio para todos os males. Os ingredientes do vinho de Jurema é de conhecimento exclusivo dos iniciados, por isso faz-se silêncio sobre sua composição.
3. O tabaco é fundamental na eliminação de malefícios vários, podendo também trazer benefícios espirituais – “chamar o transe” – quando aspirado profundamente.
4. O grande número de remédios oriundos da flora e da fauna são o manancial onde os Juremeiros preparam seus “líquidos ou pós de poder”, suas garrafadas, lambedores (xaropes) e banhos para neutralizar malefícios vários e trazer benefícios.

Para tantos “benefícios” os Mestres, basicamente fazem uso de três objetos magísticos. A princesa – uma bacia de louça branca com fumo de corda e outros elementos que representam a fonte de todo poder do Mestre. A marca mestra (maracá) que se acredita ter o poder de abrigar vários espíritos das cidades e aldeias que rodeiam as cidades místicas ou reinos da Jurema. O terceiro poder é determinado pela fumaça da marca do Mestre acostado, que serve de remédio e propicia o transe de possessão.
Ao aprofundar o tema sobre a Jurema e seus rituais de fundamento e as diversas encantarias há de se ressaltar que cânticos (louvarias ou cantorias) e danças sob a influência das fumaçadas e a degustação do vinho de Jurema caracterizam esse culto e seus adeptos.


O Toque de Jurema no que concerne ao aparente caos - pois transgride na alegria e na paz a cultura vigente - e do lúdico, faz parte da cura proporcionada pelo poder dos Mestres que conhecem a psicologia e o imaginário das humanas criaturas.
Pretendo demonstrar como são alguns tipos de uso da jurema em contexto urbano por sujeitos pós-modernos . Eles são assim chamados porque trabalham com a jurema em contexto simbólico totalmente diferente de expressões rituais de populações regionais ou indígenas. Estes sujeitos assumem a jurema e seu uso dentro de contexto místico, religioso e de  psiconautismo. “Os  psiconautas
são um grupo de pesquisadores e estudiosos das plantas que engloba pessoas de formações diversas (...) possuem forte conexão pessoal com o universo dos psicoativos. Tais sujeitos defendem o conhecimento direto e insubstituível da vivencia pessoal da experiência. (...) Os psiconeutas são acima de tudo experimentalistas, conhecem profundamente enorme quantidade de substancias.”
Este grupo bastante singular quer condensar o tipo de experiência com enteógenos que fazem alguns sujeitos dentro daquilo que já foi chamado de experimentalismo.
Para este grupo de sujeitos, a jurema apareceu recentemente e começam a se elaborar grandes narrativas simbólicas acerca de seu uso e de seus mistérios. São sujeitos novos, que na criatividade concernente à jurema formam mais uma de suas inúmeras e sempre diferentes tradições. Vejamos o que diz uma:
“Romper a estrutura psíquica é algo que deve levar a muitos para uma curiosidade excepcional. Desvendar os limites, encontrá-los parece ser a maior das implicações do uso destas substancias. Mas a jurema vence qualquer um, “Ela é Ela”, a  jurema toma conta da consciência a ponto de ampliá-la até tomá-la de vez daquele que ingeriu a planta, quando ela faz isso não faz por covardia, faz por redenção, a jurema redime e conforta, ela leva a consciência ao ponto perdido da coragem e do querer. Depois de passar por experiência com planta de tamanho poder, as pessoas repousam a consciência num espectro muito maior do que aquele vivenciado cotidianamente. A jurema ao transportar para mundos de razão e desrazão codificados pelas sensações de maravilhamento e êxtase, colocar a vida e as atitudes diante dela como as coisas mais significativas e saborosas da experiência humana. A jurema é mais curadora”. A jurema aparece como a grande ousadia do trabalho. É ela que desequilibra, desqualifica e reconsidera. Ela desmonta para fazer crescer, ela tem “muito conteúdo”, “fragmenta”, a jurema neste desfazer total permite uma sensação de realização fenomenal que leva o indivíduo a querer construir aquilo que temia, vence o medo. “Aprendi a confiar no enteógeno com a jurema. A história é em você, não a bebida, essa é um trampolim, mas a história é em você. A música quem vai tocar é a sua Arca interna”. Se há um porquê a jurema nos deixa próximos de uma resposta, mas chegamos tão próximos que já não sabemos exprimir nossa admiração, ficamos mudos e para o resto de tudo quase se soam palavras ilegítimas, quando só são sopro da pequena parte daquilo que nos cativou.”
Leonor Ramos Chaves é psicóloga trans-pessoal, ela é uma das principais divulgadoras e experimentadoras de enteógenos no país. Tem trabalhos regulares usando a jurema.



A JUREMA NA CIÊNCIA
A dimetiltriptamina, cuja abreviatura é DMT, é uma substância psicodélica (grupo de agentes químicos também denominados como psicodislépticos), termo proposto por J. Delay (traduzido como modificadores ou perturbadores do sistema nervoso central) pertencente ao grupo das triptaminas, semelhante à serotonina1 ,2 , e/ou à melatonina como sugerem alguns estudos.
Muito se tem falado sobre possíveis funções ansiolíticas desta substância, quando produzida dentro do cérebro humano. Há uma diversidade de pesquisas e investigações sobre o tema, entre os quais a de maior destaque foi desenvolvida pelo psiquiatra estadunidense Rick Strassman, pioneiro no estudo e testes clínicos com DMT em seres humanos, após mais de 20 anos de moratória científica sobre substâncias psicodélicas.
É também um neurotransmissor que se encontra em todos os seres humanos, e tem um papel fundamental em todos os casos de estados de percepção incomuns. Este neurotransmissor encontra-se no cérebro, no sangue, nos pulmões e noutras partes do corpo humano. Existe forte evidência que aponta para a glândula pineal (“o terceiro olho” nas tradições esotéricas), localizada no centro do cérebro, como sendo a principal fonte do DMT humano.
Como fonte de Inibidores da Monoamina Oxidase – IMAO, usa-se as sementes de arruda síria (peganum Harmala) considerada a planta com mais concentração de alcaloides de harmala, ou seja, é o IMAO natural mais eficiente que existe. Ela é originaria da Ásia e Oriente Médio dizem que fazia parte da famosa e antiga bebida dos Persas chamada SOMA, bebida esta que foi experimentada por Platão, daí a criação do mito da caverna que tem tudo a ver com a experiência enteógenea, tem tudo a ver com a condição da humanidade.







A JUREMA NO MUNDO
Em diferentes partes do mundo descobriu pessoas usando e os mais variados usos da jurema. Tem grupos de uso na Austrália, nos E.U.A. ex-membros do Santo Daime usam a jurema agora. Tem muita gente tomando jurema no Egito. Na Europa, mas em outros lugares também, tem gente que aprende sobre botânica e farmacologia. Aprende a fazer cristais concentrados da planta que podem ser fumados.
Grupos na Europa, nos Estados Unidos, no Brasil, na Austrália, no Egito,no México, na Holanda, em tantos lugares diferentes e distantes a jurema passa a ser conhecida e utilizada. Em todos estes lugares ela apresenta um uso basicamente similar. São pessoas experientes, muitas com passagem por enteógenos outros, que querem ter contato com uma nova alternativa de experiências extáticas mais diluídas, ou seja, fora do contexto de igreja, da rigidez delas. São pessoas que, como tantas, tem interesse em conhecer os mistérios da mente e da espiritualidade através do uso de plantas enteogênicas, que se encantam com a idéia de ancestralidade e originalidade indígena ligada ao conhecimento da planta. Pessoas interessadas em conhecer o segredo dos índios e seus mistérios. Interesse em xamanismo e aquilo que guarda de mistério. Algumas dessas pessoas tem a extrema sensibilidade. Para essas pessoas a jurema é a mais indígena das plantas sagradas.


Os indígenas são o valor do conhecimento das plantas sagradas. O mundo todo está curioso. Uma grande valorização é dada ao conhecimento indígena por parte extensa da população dos grandes centros urbanos.
As pessoas têm interesse em saber quando fazem, para que fazem e principalmente como fazem os indígenas os trabalhos com plantas deste tipo. As pessoas interessadas neste tipo de conhecimento permitido por enteógenos, também procuram inspiração e descobrimento em lugares outros além daqueles propostos até então pela produção cultural do ocidente.
A aventura do conhecimento que a jurema como outros enteógenos permitem é fundamental para o estilo de vida de grande parte da população ocidental que achou no uso destas plantas o caminho para a paz e a vida tranquila imprescindível para a qualidade dos esforços intelectuais, econômicos e, claro, dos emocionais.


A jurema vai ser sempre um segredo. O ocidental quer roubar este segredo, por isso temos de preservar os índios que são os conhecedores do segredo. A  jurema transforma e é muito importante. O conhecimento produzido hoje no mundo ocidental, ou em quase todo ele é já bastante dirigido para estas interpretações não totalitárias presentes na cosmologia e entendimento indígena acerca do mundo, das pessoas e sobre si mesmos. A jurema teve e tem um papel fundamental neste novo esforço do entendimento humano. Está-se pronto para se produzir uma nova postura cultural na tão mal falada civilização. Deve-se começar por entender que o uso de enteógenos apenas prescreve uma infinidade de linhas de conhecimento, mas antes de tudo é preciso acreditar ser possível, é preciso saber fazer como, ter paciência para entender e respeito para usar.


Tanto a jurema como TAMBABA, são assim compreendidas por tantos sujeitos diferentes porque possuem algo misterioso. Há um mistério relacionado à planta e também à Tambaba. Este mistério deve, em grande medida, ser reconhecido devido às experiências de êxtase e comunhão que a planta e o lugar proporcionam. O mistério como mistério nunca pode ser compreendido, senão ele deixa de ser o que é. 


TAMBABA E JUREMA...segredos e mistérios unidos.
Trabalhar com um objeto desta categoria é algo extremamente sutil e profundo. Os sujeitos que elaboram compreensões e entendimentos sobre e a partir da jurema são personagens do campo da cultura que tendem a demonstrar a sensibilidade dos grandes artistas. Esta sensibilidade é o fundamento da possibilidade de entrar nos mistérios da jurema. Percorrer os caminhos inesperados da espiritualidade, da experiência mística, do desconhecido. Tudo isso pede daquele sujeito um pouco de ousadia e muito de confiança. Quando alguém se torna apto a falar da jurema, é porque este já caminhou muito ao longo da estrada da experiência e por que não dizer do estudo da ciência da jurema.
Como um bom cientista ou eterno curioso, aquele que demonstra sensibilidade para falar da planta deve ser também aquele que aprendeu a fazer. Se a jurema ensina, é porque ela tem um modo de ser conhecida. É preciso unir à sensibilidade, um tipo de conhecimento, ou seja, uma destreza. A destreza é mais um dos fundamentos de trabalho com a jurema. Ao tempo se dá a energia da produção do conhecimento, que nasce da ousadia como sensibilidade de saber e concede a pessoa a destreza promovida pelo saber que nasce como desprendimento do esforço.





Adelmo Pereira Nunes, filho de Vardo Pereira Nunes, cangaceiro de Lampião conhecido por Moita Brava. Adelmo contou que Moita Brava era caboclo, e como ele outros também o eram e faziam parte do bando de Lampião.  O bando de Lampião usava a jurema antes dos combates com a volante. Segundo Adelmo, a jurema livra do mal e livra dos inimigos, ela também dá a coragem necessária para enfrentar dificuldades. A beberagem feita da jurema era a mesma usada pelos índios. Com a mesma forma de preparo e o mesmo ritual. O interessante ainda é que Adelmo narra o uso da jurema pela população branca. Segundo ele, os trabalhos dos índios emergentes são assistidos por quem quiser ver, não se faz qualquer tipo de restrição. Esta mesma população que assiste os trabalhos de jurema indígena, passou a fazê-lo de forma independente. Por isso, uma parte dos habitantes brancos da região fazem trabalhos de jurema exatamente como os índios, do mesmo preparo da jurema até as linhas e experiências de êxtase e de transe.
Depois de tomar jurema com peganum harmala algumas vezes, acredito que as experiências com a planta são divinatórias e benéficas. Não cabe aqui tudo aquilo que estas experiências trazem de bom. Somente uma ínfima parte pode ser narrada. Tentei demonstrar como as experiências com jurema são legítimas. Todos os sujeitos da jurema apresentam em seu repertório de símbolos a paz e a alegria. A jurema concede estes sintomas. A jurema faz o homem melhor. Ela faz isso porque produz experiências tão ricas, profundas e transformadoras, que a pessoa, depois de passar por uma delas, começa a apostar numa possibilidade de existência mais fruitiva. As experiências com a jurema ajudam a mostrar que na vida há um caminho simples de  felicidade e contentamento na relação entre os homens e destes com a natureza. Tudo que afirmo sobre a jurema, reconduzo ao naturismo de Tambaba.


Ao experimentar da luz da jurema em Tambaba, uma nova vida pode ser desenvolvida. Vida iluminada e propositiva. Aguçada com o olhar paciente e tranquilo daquele que sabe que: Ousadia e maravilhamento são necessárias para encontros profundos com o mais belo de cada um de nós - nós mesmos nos nossos mais abissais esconderijos. Nestes locais de amor e medo encontram-se tantos temores e tantas paixões. É exatamente aí que a razão deve deitar suas armas e entender que o homem, filho da natureza e dela depositário, encontra num não-ser junto à natureza nosso mais estimável encontro, nosso destino tão misterioso quanto a vida.


REFERÊNCIAS
Sangirardi Jr. O índio e as plantas alucinógenas.
Luiz de Barros Torres - Os índios Xukuru e Kariri
Roger Bastide -  Imagens do Nordeste Místico em Branco e Preto

Pierre Bourdieu - O Poder Simbólico

5 comentários:

  1. O lugar é realmente mágico. Quem não conhece...vale a pena vir conhecer. Adoro!

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  2. "Leonor Ramos Chaves é psicóloga trans-pessoal, ela é uma das principais divulgadoras e experimentadoras de enteógenos no país. Tem trabalhos regulares usando a jurema."

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  3. Naturismo é tudo de bom! Despir-se dos preconceitos, dos rótulos...entrando em contato mais profundo com a natureza.

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  4. Também sou frequentador da praia naturista.

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  5. Ainda não fui...mas a Flavinha quer ir.

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