TAMBABA – MAGIA E SEDUÇÃO
Tambaba está localizada no município do Conde, a 30 km de
João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, é um lugar paradisíaco, onde fica a
mais conhecida e bela praia de naturismo do Brasil, que compõe a Área de
Preservação Ambiental de Tambaba. A APA de Tambaba, com 14 mil hectares, está
integrada entre três municípios: Conde, Pitimbu e Alhandra.
Em Tambaba existe a mata secundária mais densa de toda a
APA, com dezenas de espécies vegetais próprias da Mata Atlântica, bioma
brasileiro que resta apenas 5% da floresta original. Na APA de Tambaba vivem
diversos tipos de animais autóctones: serpentes, jacaré, iguana, jaguatirica,
raposa, cotia, guaxinim, coati, papagaio curica, papa-mel, seriema, jacu,
tamanduá-mirim e outros animais em vias de extinção.
Tambaba está envolvida em um
ambiente mágico.
Desde antes do descobrimento se praticava o culto da
Jurema. Essa bebida cerimonial xamânica que leva a pessoa a um estado de
percepção sensorial superior.
Cozinha-se a raiz da planta denominada jurema (Mimosa
hostilis) e, com essa bebida, se obtém o poderoso neurotransmissor
dimetiltriptamina, DMT, que é uma sofisticada estrutura química similar à
serotonina, que permitia aos indígenas realizar a integração do homem com os
espíritos. Nas pedras de suas praias ainda se realizam cultos para as entidades
espirituais da floresta, é uma tradição que se pratica desde muitos séculos.
O culto da Jurema foi reconhecido pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba como patrimônio imaterial
da cultura local. A origem desse culto é o território da APA de Tambaba.
Entre as dezenas de espécies botânicas existentes em
Tambaba há uma muito especial, que é o barbatimão (Stryphnodendron barbatiman),
que era conhecido pelos primitivos habitantes do Brasil por “ibá timó”, que
significa em tupi-guarani “árvore que aperta”, pois era usado pelas mulheres
indígenas para acochar o órgão genital feminino. Algumas mulheres continuam
usando o barbatimão para potencializar o prazer da prática sexual.
JUREMA
A "Jurema Negra" ( Mimosa Tenuiflora ), é também
conhecida como Espinheiro Preto. É uma árvore muito conhecida no nordeste
brasileiro~. São utilizadas a casca e a raiz macerada na água.
É desta planta que se origina o famoso "Vinho da
Jurema", citado até na obra "Iracema", de José de Alencar : "Através
da planta, os guerreiros de Araquem entravam em comunicação com o mundo
invisível"
É usada nos rituais de quilombolas e pajelanças, principalmente entre os índios
Tabajaras, Jês, Tapuias e Kariris (BR). O preparo da bebida e o cerimonial eram
secretos. Era usada por médicos-feiticeiros, juntamente com o fumo e o maracá,
para abençoar, aconselhar e curar. A ingestão permite ao pajé entrar em contato
com seus espíritos ancestrais. Na Umbanda, Jurema é a dona das ervas mágicas.
Segundo Sangirardi Jr.,os pajés indigenas ensinaram aos
brancos e mestiços os mistérios da pajelança, e esta influiu no ritual dos
quilombolas. O "Cauim" (cachaça com Jurema), dá um sentimento de
plena energia, de paz com o mundo e com nós mesmo, de empatia com todas as
criaturas.
Até o século XIX, o fato de beber jurema era considerado um
ato de bruxaria ou prática de magia e seu uso era secreto. Alguns indígenas
foram presos praticando este ritual, entretanto foram ele que ensinaram aos
brancos e mestiços o uso da planta.
Existem dois tipos de jurema, a branca (Pithecolobium
diversifolium) e a negra (Mimosa nigra Hub.). Os pajés indígenas elaboravam uma
bebida com a jurema branca que produzia sonhos afrodisíacos e premonitórios.
A infusão de jurema é preparada com suas raízes, que devem
primeiro serem raspadas para eliminar a terra que nela se apresenta agregada e
depois serem muito bem lavadas. Em seguida, a raiz deve ser colocada sobre uma
pedra e macerada com a utilização de outra pedra. A massa formada deve ser
diluída em um recipiente com água. Pouco a pouco a água se transforma em um
líquido avermelhado e espumoso, semelhante ao vinho, motivo pelo qual é
conhecido por este nome.
As folhas de jurema também são usadas secas, misturadas ao
tabaco, que são fumados em cachimbos que os indígenas faziam com o tronco da
jurema. O pajé coloca o cachimbo ao contrário, onde se deposita o tabaco, e
sopra sobre a poção que se encontra no recipiente. Os galhos e as flores da
jurema são destinados à rituais de limpeza que combatem o mau-olhado e eliminam
qualquer influência negativa no corpo.
Recomendam os especialistas em tal classe de psicotrópicos
o conhecimento do maior número possível de ritos e descrições individuais
inclusive por esse método de pesquisa já se denomina essas substancias como
enteógenos.
A palavra enteógeno significa literalmente: manifestação interior do divino, deriva
de uma palavra grega obsoleta, que se refere à comunhão religiosa com drogas
visionárias, ataques de profecia, e paixão erótica, e está relacionada com a
palavra entusiasmo pela mesma raiz.
Apesar das semelhanças dos relatos de uso dessas
substancias possuírem uma semelhança com as descrições de estados oníricos, das
psicoses e de êxtase religioso e possessão divina (como o nome enteógeno
sugere) não apenas por ser um efeito psicofarmacológico, onde o usuário não
perde a consciência do ritual ou do uso da substancia, é possível reduzir seu
efeito e uso.
A persistência do uso da jurema em rituais indígenas e
religiões populares do Nordeste do Brasil pelos quilombolas, apesar de
combatida pela colonização católica, com os rigores da inquisição e da polícia,
por si só indica sua importância farmacêutica e simbólica para grupos que
possuem uma forma específica de organização social entre a sociedade tribal e
as comunidades religiosas. Contudo pode-se atribuir a essa perseguição a
diversidade no modo de uso e mesmo da identificação da espécie.
Os índios do Nordeste apesar do processo de integração à
sociedade nacional conservaram em algumas regiões organizações que sobrevivem
como grupos religiosos e entidades civis tuteladas pelo estado identificadas em
etnias sobreviventes e Missões indígenas. Pelo menos 5 etnias ainda utilizam a
Jurema em seus rituais.
A Jurema juntamente com o
cacto mandacaru faz parte do dia a dia do nordestino, bem como das histórias e
das lendas, sobretudo na caatinga nordestina, sendo considerada sagrada pelos
índios.
Não é difícil entender
porque a Jurema seria sagrada para os índios nordestinos antes da chegada dos
brancos.
Além de seu caráter
alucinógeno e do seu comprovado uso nas guerras e ritos de passagem, a Jurema,
enquanto planta, desempenha um papel central no ecossistema semiárido das
caatingas nordestinas: durante os longos períodos de estiagem, quando a
paisagem do sertão fica cinza e vermelho, apenas ela e o cacto do mandacaru
resistem verdes e com reservas de água.
Na verdade, no auge da
estiagem, a casca da Jurema seca enquanto seu interior permanece viçoso. Quando
a chuva volta, a casca seca cai e a árvore reaparece jovem.
Esse fenômeno dá margem a
uma longa mitologia de lendas e cantos envolvendo os ciclos de sazonalidade de
morte e renascimento. Mas, ao contrário do mandacaru, do qual o sertanejo pode
extrair água durante a estiagem, a água da Jurema é completamente inacessível
ao uso humano.
Assim, centro da resistência
da vida orgânica à seca, em torno do qual todo ecossistema ‘não humano’ (na
verdade, não mamífero) da caatinga gravita, a Jurema reina no sertão
nordestino, desde tempos imemoriais, às margens de qualquer socialização:
trata-se apenas um local perigoso e cheio de tabus, sob múltiplos aspectos.
Os cultos não são apenas
públicos, pois há os individuais, onde se atendem e se faz vários tipos de
trabalhos, todavia, quando do Toque de Jurema, o mesmo se processa da seguinte
maneira:
1. Os rituais ou mesas são
mágico-sagrados sendo muito valorizados principalmente pelos benefícios que
propiciam.
2. O uso do vinho de Jurema
é o principal remédio para todos os males. Os ingredientes do vinho de Jurema é
de conhecimento exclusivo dos iniciados, por isso faz-se silêncio sobre sua composição.
3. O tabaco é fundamental na
eliminação de malefícios vários, podendo também trazer benefícios espirituais –
“chamar o transe” – quando aspirado profundamente.
4. O grande número de
remédios oriundos da flora e da fauna são o manancial onde os Juremeiros
preparam seus “líquidos ou pós de poder”, suas garrafadas, lambedores (xaropes)
e banhos para neutralizar malefícios vários e trazer benefícios.
Para tantos “benefícios” os
Mestres, basicamente fazem uso de três objetos magísticos. A princesa – uma
bacia de louça branca com fumo de corda e outros elementos que representam a fonte
de todo poder do Mestre. A marca mestra (maracá) que se acredita ter o poder de
abrigar vários espíritos das cidades e aldeias que rodeiam as cidades místicas
ou reinos da Jurema. O terceiro poder é determinado pela fumaça da marca do
Mestre acostado, que serve de remédio e propicia o transe de possessão.
Ao aprofundar o tema sobre a
Jurema e seus rituais de fundamento e as diversas encantarias há de se
ressaltar que cânticos (louvarias ou cantorias) e danças sob a influência das
fumaçadas e a degustação do vinho de Jurema caracterizam esse culto e seus
adeptos.
O Toque de Jurema no que
concerne ao aparente caos - pois transgride na alegria e na paz a cultura
vigente - e do lúdico, faz parte da cura proporcionada pelo poder dos Mestres
que conhecem a psicologia e o imaginário das humanas criaturas.
Pretendo demonstrar como são
alguns tipos de uso da jurema em contexto urbano por sujeitos pós-modernos .
Eles são assim chamados porque trabalham com a jurema em contexto simbólico
totalmente diferente de expressões rituais de populações regionais ou
indígenas. Estes sujeitos assumem a jurema e seu uso dentro de contexto
místico, religioso e de psiconautismo. “Os
psiconautas
são um grupo de
pesquisadores e estudiosos das plantas que engloba pessoas de formações
diversas (...) possuem forte conexão pessoal com o universo dos psicoativos.
Tais sujeitos defendem o conhecimento direto e insubstituível da vivencia
pessoal da experiência. (...) Os psiconeutas são acima de tudo experimentalistas, conhecem
profundamente enorme quantidade de substancias.”
Este grupo bastante singular
quer condensar o tipo de experiência com enteógenos que fazem alguns sujeitos
dentro daquilo que já foi chamado de experimentalismo.
Para este grupo de sujeitos,
a jurema apareceu recentemente e começam a se elaborar grandes narrativas
simbólicas acerca de seu uso e de seus mistérios. São sujeitos novos, que na
criatividade concernente à jurema formam mais uma de suas inúmeras e sempre
diferentes tradições. Vejamos o que diz uma:
“Romper a estrutura psíquica
é algo que deve levar a muitos para uma curiosidade excepcional. Desvendar os
limites, encontrá-los parece ser a maior das implicações do uso destas substancias.
Mas a jurema vence qualquer um, “Ela é Ela”, a
jurema toma conta da consciência a ponto de ampliá-la até tomá-la de vez
daquele que ingeriu a planta, quando ela faz isso não faz por covardia, faz por
redenção, a jurema redime e conforta, ela leva a consciência ao ponto perdido
da coragem e do querer. Depois de passar por experiência com planta de tamanho
poder, as pessoas repousam a consciência num espectro muito maior do que aquele
vivenciado cotidianamente. A jurema ao transportar para mundos de razão e
desrazão codificados pelas sensações de maravilhamento e êxtase, colocar a vida
e as atitudes diante dela como as coisas mais significativas e saborosas da
experiência humana. A jurema é mais curadora”. A jurema aparece como a grande
ousadia do trabalho. É ela que desequilibra, desqualifica e reconsidera. Ela
desmonta para fazer crescer, ela tem “muito conteúdo”, “fragmenta”, a jurema
neste desfazer total permite uma sensação de realização fenomenal que leva o
indivíduo a querer construir aquilo que temia, vence o medo. “Aprendi a confiar
no enteógeno com a jurema. A história é em você, não a bebida, essa é um
trampolim, mas a história é em você. A música quem vai tocar é a sua Arca
interna”. Se há um porquê a jurema nos deixa próximos de uma resposta, mas
chegamos tão próximos que já não sabemos exprimir nossa admiração, ficamos
mudos e para o resto de tudo quase se soam palavras ilegítimas, quando só são
sopro da pequena parte daquilo que nos cativou.”
Leonor Ramos Chaves é
psicóloga trans-pessoal, ela é uma das principais divulgadoras e
experimentadoras de enteógenos no país. Tem trabalhos regulares usando a jurema.
A JUREMA NA CIÊNCIA
A dimetiltriptamina, cuja
abreviatura é DMT, é uma substância psicodélica (grupo de agentes químicos
também denominados como psicodislépticos), termo proposto por J. Delay
(traduzido como modificadores ou perturbadores do sistema nervoso central)
pertencente ao grupo das triptaminas, semelhante à serotonina1 ,2 , e/ou à melatonina
como sugerem alguns estudos.
Muito se tem falado sobre
possíveis funções ansiolíticas desta substância, quando produzida dentro do
cérebro humano. Há uma diversidade de pesquisas e investigações sobre o tema,
entre os quais a de maior destaque foi desenvolvida pelo psiquiatra
estadunidense Rick Strassman, pioneiro no estudo e testes clínicos com DMT em
seres humanos, após mais de 20 anos de moratória científica sobre substâncias
psicodélicas.
É também um neurotransmissor
que se encontra em todos os seres humanos, e tem um papel fundamental em todos
os casos de estados de percepção incomuns. Este neurotransmissor encontra-se no
cérebro, no sangue, nos pulmões e noutras partes do corpo humano. Existe forte
evidência que aponta para a glândula pineal (“o terceiro olho” nas tradições
esotéricas), localizada no centro do cérebro, como sendo a principal fonte do
DMT humano.
Como fonte de Inibidores da
Monoamina Oxidase – IMAO, usa-se as sementes de arruda síria (peganum Harmala)
considerada a planta com mais concentração de alcaloides de harmala, ou seja, é
o IMAO natural mais eficiente que existe. Ela é originaria da Ásia e Oriente Médio
dizem que fazia parte da famosa e antiga bebida dos Persas chamada SOMA, bebida
esta que foi experimentada por Platão, daí a criação do mito da caverna que tem
tudo a ver com a experiência enteógenea, tem tudo a ver com a condição da
humanidade.
A JUREMA NO MUNDO
Em diferentes partes do
mundo descobriu pessoas usando e os mais variados usos da jurema. Tem grupos de
uso na Austrália, nos E.U.A. ex-membros do Santo Daime usam a jurema agora. Tem
muita gente tomando jurema no Egito. Na Europa, mas em outros lugares também,
tem gente que aprende sobre botânica e farmacologia. Aprende a fazer cristais
concentrados da planta que podem ser fumados.
Grupos na Europa, nos
Estados Unidos, no Brasil, na Austrália, no Egito,no México, na Holanda, em
tantos lugares diferentes e distantes a jurema passa a ser conhecida e
utilizada. Em todos estes lugares ela apresenta um uso basicamente similar. São
pessoas experientes, muitas com passagem por enteógenos outros, que querem ter
contato com uma nova alternativa de experiências extáticas mais diluídas, ou
seja, fora do contexto de igreja, da rigidez delas. São pessoas que, como
tantas, tem interesse em conhecer os mistérios da mente e da espiritualidade
através do uso de plantas enteogênicas, que se encantam com a idéia de
ancestralidade e originalidade indígena ligada ao conhecimento da planta.
Pessoas interessadas em conhecer o segredo dos índios e seus mistérios.
Interesse em xamanismo e aquilo que guarda de mistério. Algumas dessas pessoas
tem a extrema sensibilidade. Para essas pessoas a jurema é a mais indígena das
plantas sagradas.
Os indígenas são o valor do conhecimento
das plantas sagradas. O mundo todo está curioso. Uma grande valorização é dada
ao conhecimento indígena por parte extensa da população dos grandes centros
urbanos.
As pessoas têm interesse em
saber quando fazem, para que fazem e principalmente como fazem os indígenas os
trabalhos com plantas deste tipo. As pessoas interessadas neste tipo de
conhecimento permitido por enteógenos, também procuram inspiração e
descobrimento em lugares outros além daqueles propostos até então pela produção
cultural do ocidente.
A aventura do conhecimento
que a jurema como outros enteógenos permitem é fundamental para o estilo de
vida de grande parte da população ocidental que achou no uso destas plantas o
caminho para a paz e a vida tranquila imprescindível para a qualidade dos
esforços intelectuais, econômicos e, claro, dos emocionais.
A jurema vai ser sempre um
segredo. O ocidental quer roubar este segredo, por isso temos de preservar os
índios que são os conhecedores do segredo. A
jurema transforma e é muito importante. O conhecimento produzido hoje no
mundo ocidental, ou em quase todo ele é já bastante dirigido para estas
interpretações não totalitárias presentes na cosmologia e entendimento indígena
acerca do mundo, das pessoas e sobre si mesmos. A jurema teve e tem um papel
fundamental neste novo esforço do entendimento humano. Está-se pronto para se
produzir uma nova postura cultural na tão mal falada civilização. Deve-se
começar por entender que o uso de enteógenos apenas prescreve uma infinidade de
linhas de conhecimento, mas antes de tudo é preciso acreditar ser possível, é
preciso saber fazer como, ter paciência para entender e respeito para usar.
Tanto a jurema como TAMBABA,
são assim compreendidas por tantos sujeitos diferentes porque possuem algo
misterioso. Há um mistério relacionado à planta e também à Tambaba. Este
mistério deve, em grande medida, ser reconhecido devido às experiências de
êxtase e comunhão que a planta e o lugar proporcionam. O mistério como mistério
nunca pode ser compreendido, senão ele deixa de ser o que é.
TAMBABA E
JUREMA...segredos e mistérios unidos.
Trabalhar com um objeto
desta categoria é algo extremamente sutil e profundo. Os sujeitos que elaboram
compreensões e entendimentos sobre e a partir da jurema são personagens do
campo da cultura que tendem a demonstrar a sensibilidade dos grandes artistas.
Esta sensibilidade é o fundamento da possibilidade de entrar nos mistérios da jurema.
Percorrer os caminhos inesperados da espiritualidade, da experiência mística,
do desconhecido. Tudo isso pede daquele sujeito um pouco de ousadia e muito de
confiança. Quando alguém se torna apto a falar da jurema, é porque este já
caminhou muito ao longo da estrada da experiência e por que não dizer do estudo
da ciência da jurema.
Como um bom cientista ou
eterno curioso, aquele que demonstra sensibilidade para falar da planta deve
ser também aquele que aprendeu a fazer. Se a jurema ensina, é porque ela tem um
modo de ser conhecida. É preciso unir à sensibilidade, um tipo de conhecimento,
ou seja, uma destreza. A destreza é mais um dos fundamentos de trabalho com a
jurema. Ao tempo se dá a energia da produção do conhecimento, que nasce da
ousadia como sensibilidade de saber e concede a pessoa a destreza promovida
pelo saber que nasce como desprendimento do esforço.
Adelmo Pereira Nunes, filho
de Vardo Pereira Nunes, cangaceiro de Lampião conhecido por Moita Brava. Adelmo
contou que Moita Brava era caboclo, e como ele outros também o eram e faziam
parte do bando de Lampião. O bando de
Lampião usava a jurema antes dos combates com a volante. Segundo Adelmo, a
jurema livra do mal e livra dos inimigos, ela também dá a coragem necessária
para enfrentar dificuldades. A beberagem feita da jurema era a mesma usada
pelos índios. Com a mesma forma de preparo e o mesmo ritual. O interessante
ainda é que Adelmo narra o uso da jurema pela população branca. Segundo ele, os
trabalhos dos índios emergentes são assistidos por quem quiser ver, não se faz
qualquer tipo de restrição. Esta mesma população que assiste os trabalhos de
jurema indígena, passou a fazê-lo de forma independente. Por isso, uma parte
dos habitantes brancos da região fazem trabalhos de jurema exatamente como os
índios, do mesmo preparo da jurema até as linhas e experiências de êxtase e de
transe.
Depois de tomar jurema com
peganum harmala algumas vezes, acredito que as experiências com a planta são
divinatórias e benéficas. Não cabe aqui tudo aquilo que estas experiências
trazem de bom. Somente uma ínfima parte pode ser narrada. Tentei demonstrar
como as experiências com jurema são legítimas. Todos os sujeitos da jurema
apresentam em seu repertório de símbolos a paz e a alegria. A jurema concede
estes sintomas. A jurema faz o homem melhor. Ela faz isso porque produz experiências
tão ricas, profundas e transformadoras, que a pessoa, depois de passar por uma
delas, começa a apostar numa possibilidade de existência mais fruitiva. As
experiências com a jurema ajudam a mostrar que na vida há um caminho simples de felicidade e contentamento na relação entre
os homens e destes com a natureza. Tudo que afirmo sobre a jurema, reconduzo ao
naturismo de Tambaba.
Ao experimentar da luz da
jurema em Tambaba, uma nova vida pode ser desenvolvida. Vida iluminada e
propositiva. Aguçada com o olhar paciente e tranquilo daquele que sabe que:
Ousadia e maravilhamento são necessárias para encontros profundos com o mais
belo de cada um de nós - nós mesmos nos nossos mais abissais esconderijos.
Nestes locais de amor e medo encontram-se tantos temores e tantas paixões. É
exatamente aí que a razão deve deitar suas armas e entender que o homem, filho
da natureza e dela depositário, encontra num não-ser junto à natureza nosso
mais estimável encontro, nosso destino tão misterioso quanto a vida.
REFERÊNCIAS
Sangirardi Jr. O índio e as
plantas alucinógenas.
Luiz de Barros Torres - Os índios Xukuru e Kariri
Luiz de Barros Torres - Os índios Xukuru e Kariri
Roger Bastide - Imagens do Nordeste Místico em Branco e Preto
Pierre Bourdieu - O Poder Simbólico
O lugar é realmente mágico. Quem não conhece...vale a pena vir conhecer. Adoro!
ResponderExcluir"Leonor Ramos Chaves é psicóloga trans-pessoal, ela é uma das principais divulgadoras e experimentadoras de enteógenos no país. Tem trabalhos regulares usando a jurema."
ResponderExcluirNaturismo é tudo de bom! Despir-se dos preconceitos, dos rótulos...entrando em contato mais profundo com a natureza.
ResponderExcluirTambém sou frequentador da praia naturista.
ResponderExcluirAinda não fui...mas a Flavinha quer ir.
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